Campanha Literária

Crónicas e poesias da Semana do Servidor 2021

Veja abaixo as crónicas e poesias da Semana do Servidor 2021.

Léo Salgado

O Rabugento mais simpático

A história que me proponho a contar é de uma vítima da pandemia, um herói da Sefaz, conhecido de muitos e pouco conhecido de alguns.

Hoje eu vou falar do nosso querido Seu Jorginho, o servidor Jorge Santana da Superintendência de Recursos Humanos e que por muitos anos foi o responsável pelo balcão de atendimentos do nosso DP.

Jorginho entrou para o estado em 1969, como Agente de Pagamento e com a fusão tornou-se servidor da fazenda pertencente ao quadro suplementar.

Dedicou sua vida a servir ao estado do Rio de Janeiro;

Em fevereiro de 1986, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no nono andar do edifício Andorinhas, no Centro do Rio de Janeiro, provocou um incêndio que deixou 21 pessoas mortas e 50 feridas.

Segundo relatos da época os bombeiros chegaram em poucos minutos, mas só começaram a apagar o fogo depois de uma hora em função de problemas nos equipamentos. A precariedade da estrutura de prevenção de incêndio do prédio e a falta de água em hidrantes nas redondezas contribuíram para que o fogo consumisse cinco andares em três horas.

Neste dia e hora o querido Jorginho trabalhava no 10º andar do edifico Andorinha e conseguiu descer a tempo esquivando-se da fumaça que já dominava o ambiente. Neste dia Jorginho perdeu vários colegas de trabalho que não conseguiram se livrar daquele fatídico incêndio.

As histórias contadas por ele, que presenciou e vivenciou em seus mais de 50 anos de estado do Rio de Janeiro, eram muitas, todas contadas com a irreverencia, a alegria e sarcasmo que faziam parte de sua personalidade.

Durante vários anos ele era o meu carona fixo e fazia com que o tempo que perdíamos no trânsito não fosse sentido, uma vez que ficávamos absorvendo suas histórias e suas experiencias de vida.

Certa vez, depois de ouvir varias pessoas reclamando de seu jeito emburrado, resolvi procurar uma maneira de convence-lo a fazer um curso sobre “Atendimento”. Depois de alguns minutos falando sobre as vantagens de um curso deste para os servidores da fazenda, perguntei se ele não estaria interessado.

Depois de pensar um pouco ele me surpreendeu com a seguinte resposta:

– “Desculpe seu Léo, apesar de conhecer tudo sobre o assunto eu acho que não sou bom o bastante para dar aula!”.

Deste dia em diante resolvi não voltar mais com esse assunto.

Jorginho era um ser humano admirável e ao mesmo tempo que exercitava seu jeito emburrado de atender, nutria um carinho muito grande por seus “clientes” e servidores que vinham procurar ajuda e conselhos sobre os mais variados problemas ligados ao DP.

Ele então procurava informações junto a COAD e insistia até conseguir a informação ou a solução do problema.

Ser vizinho do Jorginho deveria ser um exercício de paciência, principalmente nos fins de semana em que ele curtia ouvir, nas alturas, seus CD´s de sertanejo raiz e um muito especial, que reproduzia sons de berrante, eram histórias hilárias e divertiam a todos que as ouviam.

Uma outra caracteriza do Jorginho era seu sarcasmo. Muitas vezes você não sabia se ele estava falando algo de uma forma positiva ou se era um super exercício de seu sarcasmo, principalmente com alguns de seus “colegas” de trabalho, que sofriam com a irreverencia e seus comentários de duplo sentido.

Era impressionante, que apesar de toda sua forma rabugenta e sarcástica, ele era muito querido de todos aqueles que tiveram o privilégio de compartilhar este convívio.

A fezinha diária e as apostas na mega sena faziam parte de seu cotidiano e não deixavam de acontecer, e faziam parte do seu dia a dia.

Ao voltar do meu período de home office, fiquei muito feliz de revê-lo e saber que já estava vacinado com as duas doses da “coronavac”, superando o difícil período de milhares de mortes diárias.

Voltamos a conversar umas duas ou três vezes e notei que seu humor continuava o mesmo e bastante afiado.

Finalmente, na segunda feira, 04 de outubro, ao chegar para trabalhar, fui surpreendido pelo cartaz colado na parede do elevador que nos dava a noticia de sua morte. Surpreso e em choque procurei o RH e soube que foi mais uma vítima da Covid 19, apesar de já estar vacinado e “protegido” de manifestações mais graves da doença.

Foi um baque, uma grande tristeza se abateu e passei o dia com um grande sentimento de perda, da perda de uma colega, de um amigo, de uma alma gentil e divertida.

Passados alguns dias me veio a ideia de escrever alguma coisa sobre o seu Jorginho e contar para mais algumas pessoas quem era esse personagem marcante da SEFAZ, ou seja, de alguma forma reverenciar a memória deste herói da fazenda, que sobreviveu ao Andorinha e acabou sucumbindo pela Covid.

Assim, este texto é muito mais uma homenagem do que uma história relacionada a pandemia, que ainda vivemos e com a qual temos que nos preparar para continuar vivendo.

Léo Salgado

O Rabugento mais simpático – Léo Cunha de Alburquerque Salgado

Aproveitei o tempo!

Terrível essa pandemia. Milhões de pessoas morreram em todo o mundo e, até que tudo realmente seja resolvido, através da vacinação e de outras medidas sanitárias provavelmente ainda sofreremos por bom tempo as agruras de doença tão perniciosa e mortal.

Há uma divergência incrível quanto ao que fazer diante de tal cenário. Usem máscaras, vacinem-se, mantenham distanciamento, dizem uns e outros.

Uma grande balburdia, desentendimentos em meio a dor e ao sofrimento.

Fiquei isolado e aproveitando para me capacitar ainda mais, mesmo não precisando de coisa alguma, mas ainda pretendo conquistar muitas outras coisas…

Tenho propósitos e objetivos, pois penso que meu legado tem que ser importante para meus atuais e futuros descendentes e para a minha mui amada e querida companheira, uma dedicada advogada.

Nessa quadra, participei de diversos cursos, via EAD, na Australia, País de Gales, Itália, e outros por aqui mesmo, fiz teste de ancestralidade para melhor saber sobre as origens genéticas, faço Pilates, escrevo e pinto. Somente não faço bordados, pois não é minha praia…Aviso: sem preconceitos!

Assim, apesar das preocupações diárias a respeito desse terrível vírus, aproveitei o tempo para obter também excelentes graus, como Coach e Master Coach, da Sociedade Internacional de MindSet- S.I.M.

Ainda , participei de imersão em Copywriting, com a famosa Roberta Santos Cardoso, com o objetivo de melhor me inteirar das técnicas de redação persuasiva, tendo em vista que há grandes e incomuns possibilidades na área do marketing digital.

O tempo ainda foi suficiente para escrever um novo livro, sobre água mineral natural, ora em fase de revisão final. É o segundo a respeito desse tema.

Apesar de ter participado de tantos eventos, vale a pena lembrar, que mesmo na inatividade, estou atento as disposições tributárias e às questões de fraudes fiscais e contábeis, assunto que pretendo abordar numa nova obra em futuro próximo.

Por tudo o que foi dito, a pandemia teve o condão de me permitir acessar novas áreas do conhecimento e da informação, em meu próprio benefício e que resultara, sem dúvida, em benefício para outras pessoas próximas ou distantes.

Como diz o meu mestre do Coaching, “sou indesistivel”, “faço tudo certo até dar certo, rumo a minha melhor versão”.

Nada é impossível!

Aproveite o tempo! – Mauro Santiago Vaistman

Novo normal

Nossas ruas vazias Nosso peito cheio de saudade

Saudade de quem perdemos

De quem não vemos

De quem não abraçamos

Nossos olhos das janelas

Seguem esperando avistar

Novos tempos

Nossos corações em luto

Ainda encontram forças para lutar

Os dias que chegam

Acumulam cinzas e cores

Pesos, passos e passados

Alívios, alijamentos e aliados

Suposições, suportes e superações

Vistas ao longe

Sentidas de perto

Irradiam-se no novo normal

Novas esperanças que despontam

Em novos alvoreceres

Poesia para a Campanha Literária: “Histórias de superação: vitórias e aprendizados em tempos de pandemia” Autora: Rafaela Miotto de Almeida – ID Funcional 5114201-5

Novo normal – Rafaela Miotto de Almeida

Antes de tanto

Antes de tanto, eu não conhecia falta de ar Que não fosse paixão.

Perdi o fôlego, o senso e o chão.

Perdi meu avô, alguns conceitos, todo meu planejamento, Mas agreguei respeito à minha própria opinião.

Porque é assim, minha gente: A vi-da pas-sa.

Vem um vírus, um carro, uma marquise E tudo acaba.

Tudo menos o que você faz bem feito Por ser você mesmo

Nesse mundo cão

Tudo menos o amor

Que expande o seu peito

E preenche um outro coração. (Pausa)

Tudo só é o mesmo Se você não entende

Que o céu é o seu chão.

Rebeca dos Anjos Antes de tanto – Rebeca dos Anjos Medeiros

Silvia Knoller

JANELA

A notícia terrível era de tão longe que ouvíamos como se nunca fosse bater à nossa porta. Como de outras vezes que tocou só em solos distantes, do outro lado de nosso Atlântico que nos une e ao mesmo tempo nos divide.

Era março quando a tempestade já dizia que estava chegando. Mês de meu aniversário e sabiamente comemorei meu aniversário com uma intensidade desigual dos últimos anos. Muita gente naquela mesa enorme do Baixo Gávea, palco outrora de minhas loucas noites de juventude e não tão juventude assim. Mal sabia que a ambientação seria um spoiler do que viria: éramos a única mesa ocupada da varanda. Lá dentro a desolação era a mesma, apenas uma mesa com um casal.

Na minha cabeça um pensamento me passou veloz que nem os anos vividos: não se faz mais Baixo Gávea como antigamente ou será que é o medo já rondando a cabeça das pessoas? Afinal, era um vírus novo e altamente perigoso. Como eu veria depois, não era o medo daquele ser microscópio estrangeiro que acabava de aparecer bem pertinho dali, no Alto Leblon. O esvaziamento daqueles bares e ruas era o reflexo do tempo que a tudo muda, principalmente a presença e obras humanas. O medo para muitos chegou muito depois. Para outros, nem chegou.

Uma noite muito feliz, risadas na madrugada que não chegou a amanhecer como antigamente. Comer e beber em companhia de muitos amigos ou mesmo familiares queridos, na rua, em qualquer boteco ou bar pé-limpo não tem preço. Mas isto constatamos mais fortemente muito tempo depois, quando o refúgio forçado em nossas casas mostrou de forma mais clara que beber e comer sozinho tem graça mas nem tanto.

Era a terceira comemoração de um único aniversário naquela semana e a última.

A semana chegou e na terça trouxe com ela uma das palavras mais falada e repetida até a exaustão dos sentidos: confinamento. O que se intuía vigorar algumas poucas semanas virou meses e meses.

Em tal situação percebi que os que melhor se adaptam às situações prisionais, seja elas quais forem, são aqueles com maior capacidade de criar, de se reinventar e de aceitar o que não pode mudar mas dando novos significados. Ainda mais quem como eu mora em um apartamento pequeno, de fundo…não um fundo bonito, com a paisagem ao longe. Um fundo grande de paredes brancas na lateral direita e na esquerda, janelas cortadas no cimento branco de meu prédio. Um pequeno hexágono de céu rasgando essa massa branca de tinta a cobrir os tijolos dos imóveis vizinhos.

Era minha janela para o mundo. Através dela fotografei meses a fio o estado de ânimo do céu. Enquanto milhares de milhares de pessoas postavam suas fotos em um grupo de “vistas das janelas do mundo”, ou algo semelhante, onde se viam cenários espetaculares, a minha única postagem foi um pedaço geométrico de céu muito azul a dominar entre um pedacinho de paredes brancas. Fiz fotos ótimas. Penso em reuni-las num conjunto e expor. Até que de repente meu celular com câmara maravilhosa quebrou. O novo já não trazia uma tão boa e parei.

Mas minha janela para o mundo continuou a me encantar porque me trouxe uma legião de pássaros que cortavam o ar numa formação esplêndida em forma de “v”. Fez do balé das nuvens um espetáculo; trouxe-me um gavião-rei aboletado no alto do prédio da direita, maritacas e seus gritos, ou pássaros de peito amarelo pousado na antena do teto do meu prédio.

Ficava olhando-os pousados calmamente durante minha ginástica. Ah, minha vida confinada não foi de passividade não! Passei a correr em casa e corro até hoje, quando finalmente começo a sair por perto do bairro. No começo, não aguentava nem cinco minutos e hoje, ah, hoje, passado um ano e sete meses, corro 40 minutos três vezes por semana!! E toma alongamento e levantamento de peso, exercícios respiratórios para o pulmão ficar mais em forma em caso de… Não, essa hipótese não passava em minha cabeça. Em minha cabeça, só rondava cuidar de mim e de longe de quem precisasse de meu apoio.

Fiquei muitas vezes triste, tantas partidas; com raiva diante de fatos que insistem a bagunçar nossas vidas brasileiras, com saudades… Mas na maioria das vezes me senti muito forte e tive orgulho de mim. Eu, logo eu tão autocrítica. E pensando nisto tudo um dia me veio à cabeça um curto poema que fiz há muitos anos:

Na vida tudo passa Tempo

Uva Chuva Dores Amores

Silvia Knoller

Janela – Silvia Helena De Menezes Knoller Martins